SÍTIO ARQUEOLÓGICO DOUGGA NA TUNISIA



Sítio Arqueológio Dougga na Tunisia por Fábio Vergara Cerqueira.

Tunísia, país do norte da África, capital Túnis. País que mescla cultura e história. País de praticamente uma única religião, o Islã. Contudo, ao andar pelas ruelas da Medina, diferentemente de outros países da região, a vestes se parecem muito mais com a ocidental. Poucas mulheres, geralmente as mais idosas, usam charpes. Pensou em compras, visite os Souks de Túnis, mercado tradicional árabe. Tunísia um país que um pouco de tudo. Quer uma experiência aventureira, acampe no deserto. Quer conhecer prédios e lugares históricos, percorra os recantos do país. Praias, a Tunísia tem algumas das mais belas da região do Mediterrâneo. Tudo isto e muito mais.

Dougga/ Thugga

O que quer se apresentar aqui é um pouco da história de um local não tão badalado nas rotas turísticas, o sítio arqueológico Dougga, também chamado Thugga, também escrito Duga ou Tuga.

O texto abaixo sobre Dougga é da colaboração do Professor de História Fábio Vergara Cerqueira.

‘Dougga, uma das mais bem conservadas cidades da África romana.

I-M-P-R-E-S-S-I-O-N-A-N-T-E este sítio arqueológico de 65 km². É só o que tenho a dizer desta cidade. Fantástica. Não são muitas as cidades da Antiguidade com tal nível de conservação. Além do que se vê no sítio, muitos mosaicos estão conservados no Museu Bardo em Túnis.

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Sua excelente conservação acaba chamando atenção sobre sua originalidade. Várias soluções urbanas e arquitetônicas locais mostram o quanto às elites locais prezavam pelas suas origens berberes, mesmo em pleno processo de romanização. A cidade conheceu seu esplendor entre séc. II e primeira metade do III. Os arcos de triunfo dedicados, respectivamente, a Alexandre Severo e Septímio Severo mostram bem o apreço dos habitantes locais pelos governantes da dinastia dos Severos, que, oriundos da Líbia, cederam muitos privilégios às cidades da África do Norte.
Mas as principais obras do ponto de vista patrimonial, o Teatro e o Capitólio, datam da época de Marco Aurélio, ambos erguidos nos anos 160.
A cidade conta com uma terma de verão, mais abaixo, e outra de inverno, mais acima, muito ampla, com estrutura muito bem conservada. Na verdade, se tratava de um complexo de lazer, construído no início do séc. III, que além das dependências das termas propriamente incluía área de leitura e uma palestra anexa, para prática de ginástica (enfim, como diríamos hoje, uma academia).

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Dificilmente se visita o sítio em menos de duas horas, pois a área é muito extensa, com coisas muito diferentes para a gente ver e aprender.’

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Convido vocês a atravessar este pórtico, para conhecerem uma das cidades romanas mais bem conservadas da África romana, Dougga.

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Visão frontal de conjunto do teatro de Dougga, o mais bem conservado da África romana.

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Visão da plateia, pela entrada principal (por onde em tese entraria somente o imperador… no caso, Marco Aurélio, sob cujo reinado o teatro foi construído, nunca teria entrada por ali). De cima para baixo, acomodavam-se, no alto, os mais pobres, bem abaixo, separados por uma balaustrada, os nobres. Incrível a conservação da cena, da orquestra. Comportaria 3500 espectadores, em uma cidade de 5000 habitantes. Porém, na época, em torno de um quarto da população apenas morava na cidade.

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Visão, do alto da plateia, orquestra e cena do Teatro de Dougga

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saindo do Teatro, rumo ao Capitólio, peça imponente da arquitetura de Dougga.

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Capitólio de Dougga, construído à época de Marco Aurélio.

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Ao fundo, Capitólio. À frente, duas jovens tunisianas, uma sem véu, outra com. Sugiro darem uma ampliada. Esta dupla retrata bem a mulher tunisiane de estratos sociais médios. Inspirado no templo romano de Jupiter, sua construção foi originalmente em honra do imperador Marco Aurélio e a Lucius Verus, pela família dos Márcios, L. Marcius Simplex e L. Marcius Simplex Regillianus, mesma família responsável pela construção do teatro. No templo, ocorreria o culto imperial oficial, sob a forma de culto à tríade Júpiter, Juno e Minerva. As quatro colunas da frente e as duas do lado (com exceção de uma) era monólitos caniculados de pedra calcária encimados pelo tímpano que compunham o pórtico, que dava acesso à cella, a qual tinha 14m de altura, onde ficavam os três nichos, no centro a estátua colossal de Júpiter. No tímpano, imitando esquema iconográfico da apoteose de Augusto, temos a águia, encimada pelo imperador. Mas… aqui tem um detalhe interessantíssimo. Tem-se o busto do imperador Marco Aurélio sem a cabeça. Por quê? Foi arrancada? Não! Eras os bustos com cabeças “móveis”, que podiam ser trocadas, na medida em que troca o imperador. Sinceramente, não conhecia este costume e pelo que entendi, é uma invenção das províncias da África do Norte, que, segundo me relataram, teria sido levada a outros lugares – mas não conferi ainda! Tem uma também na cidade próxima de Bulla Regia. Me lembra a troca de foto de presidente em parede de salas de órgãos públicos.

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O visitante tem a oportunidade de percorrer um arruamento original. Em vários trechos se percebe as marcas no chão da circulação de veículos, bem como o riscado feito na pedra como antiderrapante, que se encontra por quase tudo.

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Percebem mais ao centro uma pedra diferente. Era uma espécie de tampa de bueiro. Todas as ruas de Dougga possuíam sistema de escoamento de água. Por sinal, Dougga dispunha de fontes nas colinas em seu entorno, de onde se canalizava água em aquedutos, que alimentavam três cisternas, que totalizavam 16 mil m³ de água (ou seria 16 milhões… ai… matemática.. só rola aritmética básica de cronologia…) —

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Opus africanum
Técnica construtiva usada em Dougga e outras cidades da região, como Bulla Regia. Não se adaptaram – ou não quiseram – à técnica romana, e criaram esta forma própria, que alguns dizer ser uma solução antisísmica local. Uma entre tantas originalidades desta cidade.

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Imeeennnsa villa romana, que possivelmente tenha sido uma hospedaria. Dougga fica em meio a rotas comerciais entre Cartago e cidades argelinas, daí que receberia muitos viajantes, negociantes.

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Banheiro público… mas não gratuito! Uma vez o filho reclamou que o pai, que explorava o negócio, não deveria cobrar, pois não seria um negócio limpo. Mas aí o pai pediu ao menino para cheirar a moeda, e perguntou se fedia. Bem, se o dinheiro não fedia, então podia cobrar. Historinhas. Ficava em anexo à grande villa, daí que faz sentido pensá-la como hospedaria, com seu banheirão.

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Arco do Triunfo, parcialmente conservado, dedicado a Septímio Severo

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Desponta na paisagem, ao longe, a restituição estabelecida pelo arqueólogo francês Louis Poinssot, do mausoléu púnico-líbio, que teria sido dedicado como monumento funerário oferecido pelos habitantes locais a um rei numida (talvez Massinissa). Seria um dos poucos exemplares de arquitetura numida. Portava uma inscrição em duas línguas, dois sistemas de escrita, em púnico (cartaginês) e em líbio, idioma dos berberes, etnia da dinastia numida. Afora isto, o monumento possuía elementos egípcios (no topo) e romanos (na base). Possui 21 metros de altura.

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O sítio começou a ser escavado na última década do séc. XIX. Sobre estas colinas e platô, que formavam uma fortificação natural, havia um povoado, que foi removido para outra localidade, pelo presidente Habib Gourgiba (o mesmo da independência da Tunísia, que se deu na década de ’50). Mas… o Estado, por meio deste acordo, ficou com 1/3 da área, 2/3 ficaram sob usufruto da comunidade. Até hoje não se chegou a um acordo para explorar esta outra área, entre outros motivos pq exatamente nela se tem oliveiras da melhor qualidade, de onde se produz um azeite de oliva que é reputado entre os melhores do Mediterrâneo. Hoje, as oliveiras dividem a paisagem com ovelhas e cabras.